sábado, julho 29, 2006

SOCORRO

“Socorro, não estou sentindo nada”, Arnaldo Antunes .


Por várias vezes na vida , tenho a sorte, em meu dia, sinto um prazer que não há palavra para descrever.
Considero muito justo existir o nome orgasmo para a série de movimentos involuntários, visíveis ou não, que temos na descarga final de prazer do intercurso sexual. Esse mesmo que muitas mulheres procuram sem saber que já sentiram e não fizeram a devida correlação, que outras buscam como ouro na água corrente de um rio, e há ainda as que se vangloriam de ter por mais de uma vez, orgasmo múltiplo, até denominação para o fato existe. Para o homem é mais simples localizá-lo porque ele quase invariavelmente é visível e auto explicável. Talvez por ser arcaico, instintivo e tão relacionado ao desenvolvimento de nossa espécie, o prazer sexual é descrito nas minúcias.
Quero saber como faço para denominar o prazer que sinto ao ler um parágrafo, que me explica coisas da vida, que me acende a chama da inspiração ou da inquietude. Aquele parágrafo que leio e releio, e tento de novo em voz alta, como um vício que todo prazer de certa forma nos traz. Que nos envolve num sentimento de unidade com aquele que escreveu, que nos exclui da solidão e nos conforta. E então faz admirá-lo(a) e de certa forma reverenciá-lo(a) por ter proporcionado aquele sentimento que não tenho nome para descrever, que não existe nome para descrever, e que me faz falta.
Como chamar o prazer que inicia com o cheiro da panela cozinhando no fogão, cheiro esse que remete a lugares passados que não existem mais e que será culminado numa explosão de sabor da primeira garfada, que, juro, sinto vontade de ajoelhar ao comer e isso não é exagero meu porque é sentimento. Legítimo. Mas sem nome. A falta de nome tira um pouco a veracidade da sensação mas não me deixa sem senti-la e principalmente não deixo de reconhecê-la.
Procuro no dicionário sem sucesso uma palavra que resuma a sensação de liberdade que tenho ao dirigir meu carro em alta velocidade, fato que pateticamente reconheço me causar prazer, associado ou não ao risco de morte que eventualmente posso estar correndo. E com que palavra descrever aquele sentimento que se tem o jogador de futebol segundos depois de ver seu chute marcar o gol. Aquele momento em que o indivíduo corre sem saber pra onde, levanta os braços, abraça, pula, pode ocasionalmente levantar sua camisa num strip tease que remete ao primordial prazer sexual, mas que hoje em dia ocorre em menor vezes pois sabe-se que pode haver punição nesse tipo de explosão, quem sabe com justificativas sexuais, para um prazer de conquista ainda sem nome.
Sinto-me órfã ao ouvir uma canção que toca sei lá onde meu corpo e me dá uma vontade súbita de rir ou chorar. Instintiva e dócil obedeço, sem ter como denominar o que faço, mas sempre respeitando o prazer a isso relacionado.
Voltando a música que abre esse texto, ela segue dizendo; “tem tanto sentimento, deve ter algum que sirva”. Na verdade é isso, os prazeres maiores ou menores existem e, ainda bem, posso reconhecê-los, só não posso denominá-los. Isso não deve me causar menos prazer. Ou então começarei a inventar nomes.

4 comentários:

Anônimo disse...

Titinha, vc sabe que literalmente *viajo* nos seus textos, né!
Vai escrever bem assim lá na casa do chapéu!
Beijoquinhas

Anônimo disse...

Amei, amei e amei ... queria ter o dom da palavra! Acho sensacional a arte de escrever. Agora só falta um fotolog, que tal?
Beijocas
W&P

Anônimo disse...

Como imortalizou Shakespeare

"Aquilo que chamamos rosa, com outro nome seria igualmente doce"
Entao penso que os nomes inventados teriam todos o mesmo sentido e sentimento: O AMOR
Beijao
Paty Pappacena

Anônimo disse...

Oi Tita!!!Puxa, eu gostei muuuito do seu texto, eu já acho lindo você poder ter o dom de colocar em palavras alguma idéia ou pensamento que às vezes surgem na nossa mente..e ainda faz de um modo que acompanhemos seu raciocínio e nos sintamos(será que é assim que conjuga?:P)presentes nas ações descritas...
Parabéns!!Um beijo forte da prima!!!