segunda-feira, julho 31, 2006

A Espera

“Um mandarim estava apaixonado por uma cortesã.“Serei sua, disse ela, quando tiver passado cem noites a me esperar sentado num banquinho, no meu jardim, embaixo de minha janela.”Mas, na nonagésima nona noite, o mandarim se levantou, pôs o banquinho embaixo do braço e se foi.” ( de Fragmentos de um Discurso Amoroso – Roland Barthes)



Livro que li na década de noventa, nem vinte anos na cabeça. Relê-lo todo sublinhado, rabiscado me dá uma sensação de segurança. Reconheço que continuo a mesma que tentava entender melhor aquela que levava o fenótipo. Reconhecer-me e ainda seguir incógnita. O tal “x” da equação que nunca vou achar e igualmente nunca vou deixar de procurar. Tanta coisa me explicou esse livro...
Esperamos sempre algo acontecer na vida. Dividimos nossos anos em meses, os meses em semanas, as semanas em dias, os dias em horas, depois as horas em minutos, os minutos em segundos e ainda mais frações de tempo. Infinitas. Tudo isso para, no fundo, termos uma forma de contabilizar a nossa espera. Vivemos em blocos de tempo para facilitar o legítimo cálculo do que nos resta. Viver é essa contagem regressiva para que algo especial aconteça. Assim vivo, mas não deixo de saber que a espera é a festa. A grande festa. O que se tem de verdadeiro. Como o mandarim, tenho prazer em esperar. Um prazer puro que não precisa, necessariamente, da realização do desejo para ser palpável. E por isso despretensioso e cheio de energia.
Com a idade que estou, com o perdão da morbidez, já descobri o óbvio. Viver é esperar a morte. Essa é certa. Tão certa como esperar por todo o resto. Enquanto espero, estou viva e pulsa o desejo de encontrar pessoas queridas, amadas e esperadas.


(está chegando, minha gente!)

Culpa do Anjo...

Aconteceu que,
Naquele dia
O anjinho vestia vermelho
E rabinho
ao invés de asinhas...



Boa semana, sempre esperando que todos convoquemos nosso anjo certo!

domingo, julho 30, 2006

Aniversário

FESTA 1
“Mãe o amor que sinto por você é seu,
Como é seu o meu aniversário.”
(Nando Reis).



Há cinco anos eu me dirigia ao trabalho pela rodovia, cedo de manhã. Logo que cheguei senti um quentinho por entre minhas pernas. Algo que poderia soar erótico não fosse minha condição de grávida de nove meses recém-completos. Antes de qualquer coisa fui ao banheiro para constatar o óbvio. Sim, a bolsa rompeu. Ligar para a médica, ligar para o marido – avisar que ele não vai precisar trabalhar hoje! Ligar para todo mundo. Desencadeada a ação. Chegou o dia esperado e especial.
Forrar o banco do motorista com meu próprio avental e voltar pela Castelo Branco pareceria qualquer coisa como absurdo para uma mulher de nove meses com bolsa amniótica rota. No entanto maior absurdo seria parir o rebento em Barueri. Toca fundo no acelerador rumo a São Paulo. Foi fácil, pois as contrações começaram a ficar mais fortes mesmo apenas quando eu chegava na Vila Madalena...a poucos minutos de casa. Nesse momento, chegar em casa não era coisa contada em minutos, mas sim em contrações...Esses espasmos musculares pra lá de dolorosos que temos quando em trabalho de parto.
De casa para o hospital foi um pulinho, ou vários, de dor mais pura e genuína que uma mulher pode ter. No hospital descobri coisas sobre instintos e condição animal que nosso racional finge apagar. Para o chuveiro...Ameniza o lance, mas tudo ainda tinha proporções estratosféricas. Forte, fortíssimo. Que tal chamar o anestesista? Desde os cinco centímetros de dilatação eu já havia sugerido... Finalmente o bom homem chegou. Tudo resolvido. Já podia olhar de novo para as pessoas, para o meu marido...Afastei-me um pouco da já referida condição animal. Um aparte: tinha na minha cabeça que a melhor invenção do homem havia sido o ar condicionado(?), mas de imediato mudei de opinião. A melhor invenção do homem foi, sem nenhuma dúvida naquele momento, a anestesia. O fato é que uma hora depois da bendita anestesia chegou o Maurício, na boa, na paz, na felicidade.
Hoje me dirijo a festinha com tema do Nemo, por ele escolhido. Fundo do mar que é mania dele há alguns meses. Vamos comemorar essa data que é dele, mas que não há como negar, é muito minha também. Quem quer vir?

FESTA 2.
Essa eu preciso contar. Tenho um amigo que perdi um pouco o contato. As famosas contingências da vida paulistana que sabem como ninguém afastar pessoas. No entanto, ele é um desse amigos inesquecíveis que tenho no coração. Preciso dele, e ele nem sabe disso, pois se a tristeza insiste em minha porta corro para a imagem dele dançando. Qualquer música (a dancinha é sempre igual). Dançando e mantendo a fleugma séria diante de movimentos mais propriamente malabarísticos do que uma dança. E o biquinho nos lábios, providenciando um ar de mau. De quem está se concentrando para dar o melhor de si!
Pois então ele me ligou: Tita e aí, muita emoção pela festa? Maurício está ansioso? Bem meu menino está, mas estamos com problemas... É que estou na praia e você sabe...(sei???)...reticente...ele é bem reticente ao falar...Na estrada eu atropelei um cachorro (???eu sem ação), e sem que a gente percebesse (percebesse o quê: o cachorro ou o problema no carro que virá?) nosso motor acabou a água e fundiu, tudo queimou. Só poderei sair daqui rebocado e não poderemos voltar em tempo hábil para a festinha. A história foi ficando bem triste. Nossa, meu menino estava já há três dias cantando parabéns para o seu, Tita. Nós já compramos um presentinho, estava tudo certo para irmos...Nossa...
É, fiquei sem ação e desapontada. Ele estava se sentindo mal por toda situação. Quase disse: “Não tem problema, cara, eu nem queria mesmo que você viesse...”. Só para ele se sentir melhor. Não disse, ainda tenho um pouco de senso... “Cara depois a gente se encontra, vai ser legal!”, eu finalizei. Nunca fui de muito drama.
Agora fico (e ficamos nós) com a pergunta...o que se deu com o cachorrinho????

sábado, julho 29, 2006

SOCORRO

“Socorro, não estou sentindo nada”, Arnaldo Antunes .


Por várias vezes na vida , tenho a sorte, em meu dia, sinto um prazer que não há palavra para descrever.
Considero muito justo existir o nome orgasmo para a série de movimentos involuntários, visíveis ou não, que temos na descarga final de prazer do intercurso sexual. Esse mesmo que muitas mulheres procuram sem saber que já sentiram e não fizeram a devida correlação, que outras buscam como ouro na água corrente de um rio, e há ainda as que se vangloriam de ter por mais de uma vez, orgasmo múltiplo, até denominação para o fato existe. Para o homem é mais simples localizá-lo porque ele quase invariavelmente é visível e auto explicável. Talvez por ser arcaico, instintivo e tão relacionado ao desenvolvimento de nossa espécie, o prazer sexual é descrito nas minúcias.
Quero saber como faço para denominar o prazer que sinto ao ler um parágrafo, que me explica coisas da vida, que me acende a chama da inspiração ou da inquietude. Aquele parágrafo que leio e releio, e tento de novo em voz alta, como um vício que todo prazer de certa forma nos traz. Que nos envolve num sentimento de unidade com aquele que escreveu, que nos exclui da solidão e nos conforta. E então faz admirá-lo(a) e de certa forma reverenciá-lo(a) por ter proporcionado aquele sentimento que não tenho nome para descrever, que não existe nome para descrever, e que me faz falta.
Como chamar o prazer que inicia com o cheiro da panela cozinhando no fogão, cheiro esse que remete a lugares passados que não existem mais e que será culminado numa explosão de sabor da primeira garfada, que, juro, sinto vontade de ajoelhar ao comer e isso não é exagero meu porque é sentimento. Legítimo. Mas sem nome. A falta de nome tira um pouco a veracidade da sensação mas não me deixa sem senti-la e principalmente não deixo de reconhecê-la.
Procuro no dicionário sem sucesso uma palavra que resuma a sensação de liberdade que tenho ao dirigir meu carro em alta velocidade, fato que pateticamente reconheço me causar prazer, associado ou não ao risco de morte que eventualmente posso estar correndo. E com que palavra descrever aquele sentimento que se tem o jogador de futebol segundos depois de ver seu chute marcar o gol. Aquele momento em que o indivíduo corre sem saber pra onde, levanta os braços, abraça, pula, pode ocasionalmente levantar sua camisa num strip tease que remete ao primordial prazer sexual, mas que hoje em dia ocorre em menor vezes pois sabe-se que pode haver punição nesse tipo de explosão, quem sabe com justificativas sexuais, para um prazer de conquista ainda sem nome.
Sinto-me órfã ao ouvir uma canção que toca sei lá onde meu corpo e me dá uma vontade súbita de rir ou chorar. Instintiva e dócil obedeço, sem ter como denominar o que faço, mas sempre respeitando o prazer a isso relacionado.
Voltando a música que abre esse texto, ela segue dizendo; “tem tanto sentimento, deve ter algum que sirva”. Na verdade é isso, os prazeres maiores ou menores existem e, ainda bem, posso reconhecê-los, só não posso denominá-los. Isso não deve me causar menos prazer. Ou então começarei a inventar nomes.

sexta-feira, julho 28, 2006

Não Sei, mas acho que sou eu


Meus amigos convido a todos que, na mais absoluta falta de algo melhor para fazer dêem uma passadinha por aqui!