quarta-feira, março 05, 2008

Um suspense.

O cara parou no acostamento da rodovia.
Esperou o melhor momento para a manobra.
Quando abriu um espaço, fez a curva fechada.
Dirigiu reto, na contramão.
Buscava que alguém o buscasse.(E por que querer colocar alguém no meio? Por que esse desejo de mudar o seu destino associado a mudança na vida de outras pessoas?)
Tinham de acertar em cheio, a tangente não servia.
Deve ter imaginado seus minutos póstumos de celebridade. É a época que vivemos, a irmandade da celebridade, o big brother da vida real. Ele em filmete nos noticiários. Deu uma gargalhada pensando.
Dominar a vida através da negação da própria.
Finalmente alguém sucumbiu ao seu desejo inadequado e inexpressável até então.
Descobrir a essência desse desejo silente, que grita de maneira terminal, deve ser a razão de alguns inconformados que sobraram.
O desejo que eu não sei, e ninguém pode supor de forma coerente.
Assim como a vida, meu irmão, não é coerente.


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Vivemos, vivemos, vivemos, somos hábeis em fingir ser tudo normal.
O trânsito descabido? Normal.
A fome do nosso semelhante? Normal.
A roubalheira de alguns muitos que tem poder? Normal.
Não almoçar porque tem de trabalhar? Normal.
Comprar uma bolsa que custa 50% do seu salário? Normal.
A falta de dignidade por não se ter um trabalho? Normal
A falta de dignidade por se viver de uma bolsa sei lá do quê assistencial? Normal.
Assistir com afinco a vida de outros com um "interesse comportamental" de como o ser humano reaje no confinamento? Normal.
Querer um atestado para " se encostar" por 10 dias em casa e não ter de ir trabalhar e quem sabe até poder viajar? Normal.
Ter taquicardia quando se está parado no farol vermelho e passa um motoboy, possível assaltante? Normal.

Tratar seres humanos como animais e animais como seres humanos? Normal.

É revoltante a nossa capacidade de adaptação. E não se adaptar pode ser mais desgastante e inquietante do que se adaptar. A segunda alternativa é mais árdua e perigosa.

Pode custar a vida.

um beijo
TiTa

8 comentários:

FELICIDADEetrist... disse...

Não é fácil não se adaptar, né?
Lindos textos! Continue, por favor!
Mille bacci da sua fã!
Saudade, lindaiá!

Eu não sei, você sabe? disse...

Lu Lindaiá!
parabéns aqui também, me desculpe por postar no seu dia um texto meio fúnebre no blog...eu não ia postar por falta de tempo, mas tava lendo de novo a reportagem do cara que se matou, e suicidios me intreigam muito e me veio o post...
beijos beijo beijos
tita

Anônimo disse...

Nossa isso realmente me intriga.
Muito louco uma pessoa tirar a própria vida.
Beijos

Anônimo disse...

Tita tem certas coisas que nunca vou achar normal, nunca vou me adaptar, não vou!!!
E vc mandou muito bem nesse texto!!

bjo
Giva
:)

Anônimo disse...

Tita, para a primeira parte do seu texto:
Filho da puta!

Para a segunda: Não acho nada disto normal e existem lugares que estas coisas não são tidas como normais, como você bem sabe... por isto é que digo, para mim não dá mais... chega!

Beijo,

FELICIDADEetrist... disse...

procê, ó:
http://felicidadeetristezadentrodomesmotime.blogspot.com/2008/03/da-minha-saudade.html

besitos!

disse...

Saudade da Tita!
Beijos da Ká!!!

Andrea Drewanz disse...

Ótimo este post.
Vc foi de uma lucidez fantástica!
Beijos
:)