Fundo do mar - Mia Couto
Quero ver
o fundo do mar
esse lugar
de onde se desprendem as ondas
e se arrancam
os olhos aos corais
e onde a morte beija
o lívido rosto dos afogados
Quero ver
esse lugar
onde se não vê
para que
sem disfarce
a minha luz se revele
e nesse mundo
descubra a que mundo pertenço
oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
Mia Couto é um escritor moçambicano por quem me apaixonei quando li "Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra".
Ele estudou medicina (parece que não concluiu), depois fez biologia e jornalismo e trabalha como biólogo em seu país, além de escrever como aqueles poucos que têm mesmo um dom. Que a gente lê e sente que não há esforço inspiratório, tudo flui naturalmente, e que nos faz capazes de entender logo nos primeiros parágrafos que estamos diante de um desvio do normal, do comum. Um sujeito capaz de expressar com prosa toda a poesia da vida. A vida que existe e a que não existe.
Tive o grande prazer de assistí-lo na palestra de lançamento de seu livro "O Outro Pé da Sereia", em São Paulo no ano passado. Certamente um dos pontos altos de minha vida, desses que a gente se orgulha e tem mesmo de contar e recontar, como uma forma de relembrar. E relembrar é viver, já denunciava o sambinha. E depois de enfrentar uma fila de tietes descolados no Sesc Vila Mariana, consegui (junto com ela...) trocar uma palavra com o gênio, fazer uma brincadeirinha quase impertinente, ganhar seu simpático sorriso de volta e ter dois livros autografados. Ele é muito agradável, tem aquela natureza sábia e simples do contador de história, gosta muito de Guimarães Rosa (de quem sou também devota) e como esse último adora inventar e brincar com as palavras que podem explicar o inexprimível e inexplicável. Conta várias histórias e parece que participamos de momentos divertidos de sua vida, como quando foi para Cuba para receber um prêmio e o Fidel Castro mui educadamente mandou separar uns ornamentos exóticos do tipo bijouterias finas locais para presenteá-lo. Por Mia Couto da África se tomava ser uma mulher negra e exuberante. E era um homem de estatura mediana com olhos claros. Mas com muito a dizer e representar. Olha, acho que a história foi assim, posso ter errado o país, mas foi alguma coisa assim.
No dia 23 de maio passado, Mia Couto foi homenageado pelo governo de seu país pela obtenção do Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007, atribuído pela primeira vez a um escritor do país e da África.
Acho que já havia falado de Mia Couto por aqui, mas, quem bem me conhece sabe que sou por vezes repetitiva e certas coisas não me cansam nunca falar.
Beijo e bom sábado!
Tita
E digo mais:
A foto, um amanhecer na praia.
O amanhecer encerra uma beleza que tem sua faceta mais adorável na esperança do dia que promete chegar. Sim, eu nasci num amanhecer e me reencontro para um novo nascimento cada vez que tenho oportunidade de vislumbrá-lo.
E as quintas-feiras pela manhã tem me proporcionado esse reencontro.
Sem perceber, ou percebendo, uma injeção de esperança me acerta.
Encontre AQUI mais poesias lindas do Mia Couto!
Eu não resisto, vou colar mais um:
Poema de Mia Couto
Ser, parecer
Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida
Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos
Mais um beijo,
TiTa
6 comentários:
Eita que eu sei de que tudo que vc está falando!!!! E que fila de tietes mais chique, né?? Nós, praticamente da família dele, curtimos até.....!!!
Eita poesia liiinda, foto maravilhosa, tudo feito por uma pessoa tãããão especial!!!!!!!!!!!!!!!!
Beijooooos e um liiindo sábado de chuva!
Lu
Sim, sim, a história do Mia e suas jóias finas para uma exuberante negra relaciona-se a Cuba!! Tudo ótimo! Tudo liindo!
Beijuuuuuus! E descanse, em nome de Jesus!!!
Lu
Já li "Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra". O livro é realmente poesia em forma de prosa... Gostei muito! Ainda mais por conhecer um pouca mais da cultura de um continente tão inexplorado por nós aqui.
Bjks!
Mia Couto é tudo de bom.
Ai, que vc nem escreve mais....
Assim não quero.... Venho cá toda hora e ...
... nada!
Bah!
Buááá´!
Minina, acabei de ver que postei o mesmo poema do Mia hoje!!! Juro por tudo que é mais sagrado que não percebi!! Acredita em mim?? Peguei seu link, fui ao site, mas não prestei atenção à poesia que vc tinha escolhido e....
...
... escolhi a mesma! Uaaaaaaaaaau! Cruz credo! Estamos ligadas, Tititititi! Sério mesmo... Love youuuu pra xuxu! Eita!
Lu
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