quarta-feira, outubro 04, 2006

Atrasadinha

Muito obrigada!

Fico sem escrever por alguns motivos. O principal deles é porque não devo mesmo ter nada para dizer. Você pega, torce daqui, espreme de lá e nada. Nem uma sílaba sai para fazer história.

Há um tempo estou lendo "Grande Sertão: Veredas" de Guimarães Rosa. Leitura essa que faço, propositalmente, em doses homeopáticas. Não se lê esse livro em qualquer lugar. Não dá para ser a mesma pessoa depois que se lê Guimarães Rosa. Talvez eu tenha lido Sagarana para o vestibular. E desse Grande Sertão eu sabia mais técnicas do que de fato conteúdo e forma (quero dizer eu sabia responder questões de vestibular mas não sabia ao certo o que era o livro). Reconheço nele a genialidade humana e me curvo, na minha normalidade, diante desse escritor. Colocarei alguns assuntos que rondaram minha última semana, abrindo com frases que extraí do livro . Sim, eu transcrevo num caderninho as passagens que mais me agradam - e são tantas elas!

MINHA VIZINHA

"E, digo ao senhor, aquilo mesmo que a gente receia fazer quando Deus manda, depois quando o diabo pede se perfaz."

Eu não queria o mal dela. Eu nunca quis o mal dela e ela nem sabe o mal que faz a mim e a minha família. Descobri que todo mundo tem uma história para contar sobre vizinho. Algumas são boas. Eu ainda não quero o mal dela.

Os incomodados que se mudem, diz o ditado, e é o que vou rapidamente fazer. Cansei de ser incomodada. Vou embora para Passárgada. De lá não terei notícias sobre as vozes que ela escuta e que a atormentam.

O ACIDENTE AÉREO

"Sabe o senhor: Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso..."

Até agora não pude entender o que aconteceu (e poucos entenderam, se é que alguém entendeu...) e isso que me deixa mais perplexa. Como duas aeronaves se encontram na vastidão do céu brasileiro sem ao menos ter sido marcado um encontro? Como a menor sai quase ilesa e a maior se acaba no chão? Devo acreditar que o ocorrido aconteceu porque era o céu da Amazônia? Será que o homem duvidou e fez 154 pagarem juntos prá ver? Quem quiser e souber pode me responder...!

A ELEIÇÃO

"Mas a água só é limpa é nas cabeceiras. O mal ou o bem, estão é em quem faz, não é no efeito que dão."

Domingo eu, e mais uma galera de brasileiros, votamos. Estava incomodada em ter de votar dessa vez. Escolhi meus candidatos de última hora. A democracia, a glasnost brasileira, essa transparência obscena que o cenário nacional assumiu nesse último governo me assustou, me anestesiou (fiquei sem ação), me acuou. Invento que a falta de propaganda de boca-de-urna (que já nem é tão recente) tirou a graça da eleição. Aquela farra toda de santinhos espalhando-se que parecia de certa forma também ser um maneira de propagar a esperança de mudança. Mas será que já houve graça? Só sei que ao final, digitando os números escolhidos de sopetão, me embuí de um espírito que posso chamar de otimista. Cada foto que aparecia na telinha eu olhava bem dentro do olho do...(que vontade de escrever uma palavra de baixo calão)candidato, da criatura da foto e suplicava para que fizesse algo pelo Brasil. Faz alguma coisa aí fulano! E eu pensei bem forte. Dando risada dessa minha atitude, saí da escola com o documento na mão. Esse sopro de otimismo que me leva. Fazer o quê? Sou assim. Eu nem precisava de nariz de palhaço para ter certeza que tem um enorme dentro de mim.

Um adendo: Na década de 40, meu pai infante pergunta a sua avó Paschoalina o que é um deputado. Ela sabendo muito bem o que é responde: "É um puto que anda pelas ruas!". Sucinto e verdadeiro.

O CINEMA DE DOMINGO

"E a gente, isso eu sei, às vezes é só feito menino."

Assistimos "Cinema, Aspirinas e Urubus" , primeiro e premiado filme do cineasta pernambucano Marcelo Gomes, que tem um tom auto-biográfico, pois conta uma história vivida por um tio seu. Os atores principais, totalmente por mim desconhecidos, estão muito bem. Amei a cena em que eles dão carona para uma moça da roça(aí eu descobri quem eram os urubus do título...rsrs). Foi charme para todo lado. É um road movie brasileiro, com suas peculiaridades. Sofrido na alegria, sofrido na calma de quem tem todo tempo do mundo para passar fome. De todos tipos de fome eu falo. E não há neles a sensação de sofrimento que eles passam. Entendem?

Não é imperdível, mas com certeza um filme muito melhor que outros que estão em cartaz.

O DIA ESPECIAL

" Eu vinha pensando, feito toda alegria em brados pede: pensando por prolongar. Como toda alegria, no mesmo momento, abre saudade" (não me contenho, não é lindo?)

Dia 2 fiz sete anos de casada. Abri a porta para ele a noite e o vi carregado de minhas flores favoritas, as mesmas do bouquet daquele dia sete anos atrás. Todo dia, depois daquele dia, é especial.

Para vocês, meu beijo e meu carinho.

Tita


4 comentários:

elainiiisintheair disse...

Sou sua fã, você escreve tão bem..


Beijo

Anônimo disse...

Tita...eu ti amo!....Hibjisquito!

Tua flor é monoicana..rs



(ai,acho que voltarei a ser "anonimo diz",não me lembro minha senha!.Maldito inferno astral,rsrs)

Anônimo disse...

Nossa, cada coisa linda! As do Guimarães e as suas também!
Bjs!!!

Laís Flores disse...

Cinema, aspirinas e urubus saiu há um bom tempo no satander cultural e eu não pude ver... to me culpando até agora...

E acredita que tá acontecendo a mesma coisa comigo? Eu espremo horrores pra tentar sair algo pra escrever no meu blog e nothing... deve de ser um vírus talvez...

ah, e quando tu terminar de ler essa homeopatia, tu pode me mandar? hahahaha! Nunca lí Grande Sertões Veredas e acho que a leitura deve de ser melhor ainda com os pareceres Titólogos... hahahahaha

Beijos e queijos,
Lalaiá

PS: Felicidades pro casal, visse?? Adoro vocês!