PNEUMOTÓRAX
febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tose, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três...trinta e três...trinta e três...
- Respire.
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- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(Manuel Bandeira)
A nossa vida é inteiramente ela de escolha. Maiores ou menores. Desde o primeiro minuto que acordamos até no momento do término de mais um dia, tudo são escolhas. Decidimos o horário que o despertador irá nos chamar, indócil. Depois optamos por mais uns minutinhos antes dele gritar de novo...ou não. Escolhemos se teremos pão, café com leite e frutas, ou simplesmente um copo de iogurte antes de sair de casa. A roupa que vestiremos também é resultado de uma seleção, dentre as opções do nosso guarda-roupa. A marca da nossa escova de dente e creme dental, bem como do sabonete também passou pelo crivo de nossa escolha.
No entanto diante de tantas escolhas tidas como bestas e automáticas tem aquelas que nos paralisam, nos fazem acreditar que tudo pode ser radicalmente diferente se fizermos a opção errada. Tudo pode ser arruinado se o caminho escolhido for o errado.
Como a minha paciente que decidiu o caminho que não é o do coração quando se afastou do seu verdadeiro amor. Ela na meia idade e solteira já com filhos grandes. O namorado um senhor muito bom, segundo ela, que viaja às vezes para trabalhar. O problema é sua profissão: matador. Recente havia viajado até a fronteira com Paraguai para um serviço. Ela, na cumplicidade que um bom relacionamento propõe, acabou sabendo coisas demais, que a tornaram perigosa por seu conhecimento da vida alheia. Quase acabou morta na cama de um motel pelo próprio amado, que não queria vê-la sofrer depois por tudo que já sabia. Ele julgara que ela já sabia demais para continuar viva, no entanto não consumou o ato. Já estava apaixonado demais por ela. Veja, "dotora", é um homem é muito bom, me deixou viver e me recomendou dizer sempre: eu não sei de nada. Ele me deu muitos presentes bons, muito amor, mas Deus me mostrou que não posso mais ficar ao lado dele, apesar de amá-lo muito. Já havia decidido quando passou em consulta comigo.
E uma amiga minha que está prestes a mudar de emprego. Anos de dedicação numa empresa, para perceber que o ciclo lá estava esgotado e precisava desgarrar as raízes para poder usar suas asas e voar, como diz um de meus autores favoritos, Mia Couto. E se ela estiver trocando o certo pelo incerto? Ou trocando seis por meia dúzia, mas com um terrível gasto de energia que pode ser doloroso? O fato é que se pensarmos muito, não fazemos escolhas e a vida fica estagnada. Uma confortável sensação de segurança que não é justificada pela quantidade de perdas que acaba nos trazendo a nossa aparente falta de opção.
Poderia listar aqui um tanto de escolhas tidas como maiores. Como se é melhor continuar um relacionamento morno e seguro ou buscar calor e emoção no novo? Comprar um apartamento em São Paulo ou usar o dinheiro para investir em sua carreira ou ainda num sítio com lazer completo? Morar fora para crescer profissionalmente ou continuar em seu país com menor risco e maior segurança e pouca saudade? Processar o filho da puta- com o perdão do baixo calão, mas considero palavrões tão apropriados para certas pessoas- que invadiu seus direitos e revolveu toda sua paz, ou não remexer mais em feridas doídas? É importante saber que os caminhos são imbricados e mesmo quando parece ser um o oposto do outro há como haver interligações e possibilidades de novas mudança. Nada pode ser tão rígido que não te faça mudar outra vez, se assim o quiser. E sempre há algo diferente a fazer, nem que seja "tocar um tango argentino".
Desse jeito mesmo é nossa vida, abarrotada de escolhas. Trago comigo a "filosofia" que aprendi aos dezoito anos quando tomava aulas de direção e o professor me disse: Menina, depois que você olhou para a rua para checar se poderia entrar, e resolveu entrar, não precisa mais olhar pra trás para ficar confirmando que não vem mesmo carro. O espaço já é seu. Você tem de olhar para frente e continuar dirigindo. Tão simples. Tão óbvio.
A todos que me visitaram, meu carinho e meu beijo!
Tita
quarta-feira, agosto 09, 2006
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3 comentários:
É bom olhar pra tras e admirar a vida que soubemos fazer, é bom olhar pra frente.. é bom e nunca é igual..!!!
Tão simples, tão obvio!!!
beijo, beijo!!!
Ufa!!!...Tita aqui duas coisas muio loucas aconteceram...ao ler o seu texto,a primeira coisa que me veio à cabeça foi justamente a musica do Nando,que vejo que a moça da pstagem de cima pensou igual rsrsrrs...muito prazer,sinal que já temos algo em comum...rsrsrs.E depois minha linda penso em minha própria vida que parece que desde o meu primeiro suspiro,já me clocou em xeque-mate e que nesta posição me encontro até hoje...E vou confessar gosto disso..Gosto dos desafios eles me atraem,sejam quais foerem os seus riscos,seja qual for a sua categoria.Estar aqui hoje,por exemplo já foi uma grande escolha que fiz na vida...Bom dia minha nova e já tão querida amiga!...bjk..Hibisca
"Mudanças? É só consultar o velho amigo coração. Ele sempre sabe as respostas, os caminhos e as decisões que devemos tomar"
Estou viciada no seu blog. Mil vezes parabéns.
Um beijo tão grande que nem vai caber aqui.
Paty
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