Ontem fomos ao cinema, assistir ao filme que tive a impressão que demorou a ser feito. Na verdade, pelo que li, já era uma idéia que existia há mais de 20 anos. Me impressionei com o poder criativo dessa mulher da classe média que almejava de início apenas a sobrevivência digna. Mineira(nascida em 1921, mesmo ano que minha avó) que morou alguns anos na Bahia, se instalou por definitivo no Rio de Janeiro em 1947, onde viveu até 1976, ano do seu assassinato. Casou-se com um americano "porra- louca" e omisso e se separou ainda com filhos pequenos. Daí, sua necessidade de subsistência. O que ocorre é que seu filho Stuart (o Tuti), único menino e caçula de três filhos, embrenhou-se desde muito novo (10 anos cita o filme) na luta por seus direitos e ideais. O problema é que isso se deu na década de 70, época essa que todos sabemos, vivíamos sobre um governo militar, e defender seus direitos e ideais era ato subversivo da pior qualidade.
Sentiu-se mal por não ter apoiado seu filho em sua luta desde o início e depois se mostrou tão corajosa quanto ele - "Eu não tenho coragem, coragem tinha meu filho. Eu tenho legitimidade", disse ela.
O filme vale pela atuação da Patrícia Pillar e do ótimo Daniel de Oliveira. Pela Elke Maravilha(oh, imortal!) e posso dizer que também pela Luana Piovani. Vale pelo figurino maravilhoso, que nos dá uma idéia de onde a cabeça dela poderia alcançar. E o quanto de fato era e é revolucionária. No entanto, saí com a sensação de que a angústia que ela viveu na repressão não foi transmitida com a devida fidelidade. Não se mostrou nada em relação a sua preocupação no movimento criativo de não ser censurada em suas peças...Ou será que isso não existiu? Ela poderia usar de fato as cores e combinações que quisesse sem nenhuma interferência da censura? Ela sabia-se grampeada e cheia de escutas em casa, mas em nenhum momento isso foi mostrado, esse receio de ser público; e para a pior gente, seus inimigos, seus diálogos e até pensamentos. Assim é que se vivia na época, pessoas que muito menos faziam viviam com esse peso.
Mas tem algo que me diverte muito. Eu tenho prazer em ouvir no final de uma sessão de cinema ou teatro os pareceres dos que também assistiram. Raras vezes sábios, muitas vezes equivocados e na maioria das vezes hilários. Ontem, a mocinha de quase vinte anos conversa com o namorado na saída. Eu gostei, disse ela. Ele verifica: "triste, né?". Ela complementa com um : "Sei lá, mas o que eu queria é que tivesse justiça no final". Pobre moça, ela sem dúvida está acostumada com filmes norte-americanos. E ela não sabe nada de história de Brasil. Isso me assusta pois não estamos falando de um passado muito remoto. É algo muito recente que ainda mostra muitas cicatrizes sangrantes. Não é à toa que se ouve: coloquem os militares na rua de novo! Tremo na base e constato, irremediada, que essas pessoas não podem saber sobre o que estão falando, sobre o que estão pedindo.
Agora, o filme se fecha com muita justiça sim, com a linda canção Angélica, que Chico Buarque fez para a própria anos depois de sua morte. Prá lembrar que algumas pessoas conseguiam, da sua forma, se expressar e tentar levar o Brasil prá frente. E que essas pessoas ainda estão vivas e fazendo história. É tudo muito recente, minha gente.
Sobre o filme no site: www.zuzuangelofilme.com.br , onde também se escuta a toada triste da canção do Chico.
Angelica
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento
Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar
segunda-feira, agosto 14, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Por enquanto peço desculpas pelos erros. Estou tentando acertá-los, mas tô com um cookie de problema, Não sei o que é isso, Você sabe?
Beijos da Tita
Caraca...eu já queria muito assistir esse filme,mas agora quero mais ainda!.Tu é foda!.tô arrepiada.É linda a vida de luta e de pura demosntração de amor por seu filho a vida dessa grande mulher.Linda pra variar a maneira que vc narra as coisas...Por isso que não passo um só dia sem passar por aqui.E olha eu já ruim qdo tu não escreve nada..rs...Bom dia minha linda!...Bj..Hibsca
Tita!
Vc tem uma nova fã!
Vou fundar teu fã clube, mulher!
Adoro seus textos.. tão ricos.
Beijos querida!
Querida Tróia, nossa adorei sua crítica sobre este filme.
Já queria assistir depois desta, hummmm!
Mil beijos da Karlinha/M30.
Hibisca, adoro ver vc por aqui, se náo aparece, sinto saudades:)
Ludocemaisdocedomural, que bom que gostou, passe mais vezes!
E Karlinha, barriguinha esperada da M30, adorei sua visita. Aproveite pra ver logo no cinema, porque daqui a pouco s[o DVD, e quando der!:)
Beijos!
tita
Postar um comentário